Dia de Luta da Pessoa com Deficiência: servidor do TRT5 conta como superou barreiras

Enquanto o servidor do TRT5, Marcelo Monteiro, analisa os processos referentes à legislação de pessoal na sua estação de trabalho, ele conta com a companhia de seu cão-guia, Porsche, um labrador de 10 anos, sempre atento a tudo. Esta cena acontece rotineiramente em umas das salas da Coordenadoria Administrativa de Pessoas (CAP). Marcelo possui deficiência visual desde os cinco anos de idade em consequência de um linfoma e é uma inspiração diária para todos os que convivem com ele.

Marcelo é uma das cerca de 90 pessoas com deficiência física lotadas no TRT5 que têm a atuação destacada, principalmente nesta sexta-feira (21/9), Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiencia. Nascido em Salvador, o servidor, hoje com 39 anos, frequentou a escola regular e seguiu a carreira jurídica. Para superar as barreiras impostas pela deficiência, encontrou na sua vó Maria de Lourdes uma grande aliada. Ela o orientava com os deveres escolares e, durante o curso de Direito na Universidade Católica do Salvador (UCSal), lia para ele todos os textos e livros. Em 2003 foi aprovado no concurso do TRT5 para o cargo de técnico administrativo e, em 2010, para o de analista judiciário. Para realizar suas tarefas no Tribunal, Marcelo usa um software para leitura de tela e conquista, a cada dia, mais independência.

CÃO-GUIA – Marcelo Monteiro conta que foi na adolescência que surgiu o desejo de expandir seus horizontes, ter mais mobilidade, autonomia e independência nas suas tarefas diárias. Foi assim que nasceu a vontade de ter um cão-guia. “O sonho foi realizado, em 2005, com o cachorro Ohm”, comenta. Já o simpático e ativo Porsche entrou na sua vida em 2011, após uma longa espera, vindo da Associação Brasileira de Ações Humanitárias (ABA-DF), no Distrito Federal.

O servidor explica que o trabalho de Porsche é guiá-lo com segurança, mostrando os degraus e obstáculos e ajudá-lo, por exemplo, a atravessar a rua. “Mas quem dá a direção sou eu”, diz. Ele pontua que o cão-guia também tem um papel social fundamental em sua vida pois a convivência é quase 24 horas por dia e há um sentimento mútuo de amizade, carinho, proteção. Além disso, Marcelo relata que, por conta do labrador simpático, é parado na rua por curiosos e acaba estabelecendo contato com as pessoas. “Com a bengala eu era invisível”, comenta.

Enquanto está trabalhando, Posrche usa um arreio e a orientação é não brincar com ele, pois o distrai do seu objetivo que é guiar e orientar o dono. Mas como o cachorro tem uma carinha simpática, é uma tarefa difícil para os servidores não se entreterem com o labrador, que acabou virando o mascote da unidade. O cão já é idoso e é inevitável pensar na sua aposentadoria, mas Marcelo decidiu que Porsche vai continuar morando com ele após pendurar as chuteiras.

VIDA AGITADA – Casado há 3 anos com a também deficiente visual Luíza Mascarenhas, Marcelo divide com a esposa o gosto por corrida, vinho e viagens. Eles foram, por exemplo, os primeiros visitantes do Parque Nacional da Serra da Canastra a terem permissão de entrarem com um cão-guia e já conheceram sozinhos cidades como João Pessoa e Campina Grande, em pleno São João. No fim do mês vão realizar o sonho da primeira viagem internacional, em Mendonza, na Argentina.

O casal faz academia diariamente e Marcelo já completou algumas vezes a prova de meia maratona, em várias cidades do país. Também participam de confraria de vinhos, adoram receber amigos em casa e ir para shows na Concha Acústica. Fabrício Gomes, colega de Marcelo na CAP, comenta que a vida do amigo é uma demonstração do uso da força de vontade para superar os limites físicos. “Ele tem a vida bem mais agitada do que a minha”, diz. “Conviver com Marcelo é uma lição diária, me engrandece como ser humano”, finaliza.

Secom TRT5 (Renata Carvalho) - 20/9/2018