História de sucesso revela importância de interação Justiça-comunidade

 

O salão nobre da reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA) foi tomado, na noite nesta quinta-feira (18/12), pela vibração do jazz de uma banda que teve como destaque a técnica, o estilo e a destreza de Joander Cruz, jovem itapetinguense que se apresentou em seu recital de formatura. Na plateia, a maestrina Lenisa Souza Santos (foto abaixo), estava orgulhosa do artista que foi seu aluno na Fundação Canto das Artes, entidade que atua junto à comunidade carente de Itapetinga há mais de 40 anos. "Um menino como esse muda a vida da família inteira", disse ela, lembrando que histórias de sucesso como a dele estariam fadadas a não se repetirem na cidade, não fosse a ação da Justiça do Trabalho.

 


Em setembro, a Fundação Canto das Artes, que já chegou a atender a quase 500 pessoas simultaneamente, entre crianças, jovens e adultos, estava prestes a parar seu trabalho. Na época, havia apenas 150 matriculados, recebendo a formação musical e as noções de cidadania que a instituição transmite. Foi então que a juíza Rosemeire Fernandes, titular da Vara do Trabalho de itapetinga, resolveu destinar à entidade o valor (R$ 85 mil) que uma empresa teria de pagar por condenação em Ação Civil Pública por dano moral coletivo. A juíza entendeu que, como o dano coletivo tinha ferido direito de jovens - a empresa desrespeitava a lei do estágio, usando estudantes como mão de obra precária –, o correto seria beneficiar jovens com os recursos advindos do processo.

 

O dinheiro ajudou a sanear as contas da fundação, que depende do apoio de parcerias para sobreviver numa realidade adversa. A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia disponibiliza o imóvel onde as aulas de música são realizadas, mas há problemas sérios, a exemplo dos cinco pianos da instituição, todos quebrados. Nada se compara, no entanto, à violência que amedronta e impede que as famílias deixem seus filhos estudarem. A própria Lenisa Santos já foi ameaçada pessoalmente. "os bandidos querem roubar os instrumentos para amassar e vender ao ferro velho", desabafa.

 

A maestrina, que se formou em Música no Conservatório de Caitité, sua cidade natal, fundou a Canto das Artes no fim dos anos 1960 e a registrou formalmente em 1970. Ela ministra aulas diárias para cada um dos alunos, às vezes também aos sábados, e está presente em todas as apresentações, o que inclui idas a orfanatos, asilos, hospitais e viagens para outras cidades. "A nossa atividade tem ajudado pessoas a saírem da depressão, melhora a estima delas, ajuda na recuperação", avalia Lenisa.

 

Segundo a juíza Rosemeire Fernandes, titular de Itapetinga, situações como a da Fundação devem ser reconhecidas pelos magistrados, para que o Judiciário atue em interação com a comunidade, ajudando-a e também repercurtindo os valores da Justiça.

 

FENÔMENO - "Ele é um fenômeno", destacou o professor doutor Rowney Scott (foto ao lado), orientador de Joander Cruz, que conseguiu, em 2013, uma bolsa de estudos para o jovem artista na Musikhochschule, em Mannhein, na Alemanha. Por meio de um convênio com a UFBA, Joander viajou para passar um semestre, mas seu desempenho foi tão bom que acabou ficando um ano. "Isso foi muito importante, porque lá ele pôde se focar, estudando com dedicação exclusiva", resumiu Scott.

 

A carreira de Joander começou em 2004, quando, estudante de 16 anos de um colégio público em Itapetinga, entrou para o coral da Fundação Cantos das Artes. Como já gostava de saxofone, aprendeu a tocar este e outros instrumentos de sopro e virou monitor. Em 2009, veio estudar em Salvador e agora, aos 26 anos, terminando o bacharelado em Música Popular pela Escola de Música da UFBA, já foi aprovado para o curso de mestrado na instituição.

 

Secom TRT5 (Franklin Carvalho) - 19/12/2014