''Assédio moral é resultado de cultura empresarial perversa'', diz professor

O professor titular na Unicamp José Roberto Montes Heloani abriu as atividades do I Simpósio sobre Transtornos Mentais no Tribunal Superior do Trabalho (TST), nesta terça-feira (13), com a palestra 'Violência laboral e transtornos mentais – Violência nos locais de trabalho, assédio moral, repercussões na saúde mental, Burn out'.

 

A questão do assédio nas relações de trabalho tem gerado muitas discussões no meio jurídico e é motivo de reclamações trabalhistas, principalmente nos casos em que o patrão extrapola os limites do poder, juntamente com a pressão pela cobrança de metas. Para o professor, assédio não é uma questão patológica, mas gera transtorno, doenças, às vezes até de forma deliberada, dentro de uma estrutura de gestão baseada em cobranças e metas humanamente impraticáveis.

 

Segundo Heloani, o assédio moral é intencional, porque é direcionado e tem um objetivo específico. Para ele, a intencionalidade se dá pela forma constante em que ocorre e continua acontecendo nas empresas.

 

'É claro que não posso saber o que passa na cabeça de quem assedia, mas dá para saber, pela própria frequência, que está voltado para alguém, com a intenção de ferir, de humilhar, que não é um simples conflito, um simples desentendimento', afirma Heloani.

 

O sistema financeiro aparece como exemplo, 'baseado nos resultados do mercado, cultura organizacional perversa, que leva a ter uma organização do trabalho perversa'. Ele conta que já presenciou num grande banco uma placa nos seus setores de treinamentos com a frase: 'queremos incansável', ou, ainda, 'Aposentadoria é para fraco'. Essas situações, de acordo com ele, seriam 'coisas de nazistas'. 'Você quer super-homens, supermáquinas, as pessoas não têm mais direito de pensar na família, nos filhos', ponderou.

 

O professor concluiu a palestra indagando ao público qual sociedade queremos construir: 'Uma sociedade baseadas em mentiras, que não permite que sejamos humanos, portanto, falhos, que choremos, que amemos? Vamos querer pessoas que são máquinas, calculistas, que visam apenas o lucro?'.

 

Fonte: TST - 14/12/2016