Janeiro Branco: uma reflexão sobre a saúde mental (*)

 

Idealizada pelo psicólogo Leonardo Abrahão (Uberlândia) em 2014, a campanha Janeiro Branco tem como objetivo alertar a sociedade para a importância dos cuidados com a saúde mental. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), do ano de 2018, os transtornos mentais são responsáveis por 34% dos anos perdidos por incapacidade na região das Américas. Isso significa que os transtornos mentais estão entre os principais problemas de saúde que afetam a qualidade de vida da população nessa região, estando relacionados até mesmo com a possibilidade de morte prematura.

Diante dessa realidade em que um grande número de pessoas já apresentou, apresenta ou pode vir a apresentar sinais ou sintomas de sofrimento mental, é importante falar sobre a saúde mental, desmistificando e fortalecendo a cultura de incentivo ao bem-estar psíquico.

Mas o que é saúde mental? Será a ausência de doença mental? Segundo a definição da OMS, saúde é o completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade. Nesse sentido, ter saúde não está vinculado à inexistência de doença. O binômio saúde/doença se configura num continuum, em cujos extremos estão cada um desses estados e no qual a percepção do indivíduo sobre sua própria condição de saudável ou não é relacionada a suas características pessoais e do grupo social no qual está inserido.

Não há um conceito único que defina a saúde mental. É possível pensar, entretanto, que assim como a definição mais abrangente de saúde, a ausência de um transtorno mental não funciona como condição suficiente para afirmar ter uma boa saúde mental, já que isso está relacionado à possibilidade de cada indivíduo de responder às exigências dos ambientes interno ou externo, sem que isso implique no esgotamento dos nossos recursos subjetivos, na impossibilidade de exercermos os nossos múltiplos papéis sociais ou na incapacidade de experimentarmos a sensação de bem-estar e satisfação pessoal.

Martin Seligman, um dos pioneiros da psicologia positiva, considera que para o cuidado com a saúde mental é importante focar nas qualidades humanas, incentivando a resiliência, a esperança, o otimismo, a perseverança, a coragem, as habilidades interpessoais, a ética no trabalho e muitos outros elementos. Não significa negar o sofrimento ou os afetos negativos, mas buscar ativamente potencializar aquilo que cada um tem de positivo. Dedicar tempo ao lazer, respeitar a própria necessidade de descanso, fazer exercícios físicos, realizar atividades pessoalmente gratificantes também são ações importantes na promoção e manutenção do nosso bem-estar psíquico.

Além disso, em função do dinamismo do psiquismo e das suas interações com o ambiente social, reconhecer os momentos nos quais se vivenciam condições estressogênicas, como demandas e ritmos de trabalho excessivos que  desafiam demasiadamente os nossos recursos de enfrentamento e com isso procurar ajuda são ações de saúde mental.

(*) Artigo encaminhado pela Seção de Psicologia do TRT5.

Secom TRT5 - 8/1/2019