Já está disponível para download no Portal da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o livro "A Justiça além dos Autos", organizado pela ministra Nancy Andrighi, corregedora Nacional de Justiça, que reúne em 504 páginas mais de 170 histórias que marcaram a vida de juízes: disputas judiciais emocionantes, casos com desfechos surpreendentes, fatos curiosos e, por vezes, histórias de humor.
A obra, baseada em levantamento feito pelos desembargadores Fátima Bezerra Cavalcanti (TJPB) e Pedro Feu Rosa (TJES) e pelo juiz Álvaro Kalix Ferro (TJRO), foi lançada na última terça-feira (23/8), antes da 236ª Sessão Plenária do CNJ, e será distribuída aos tribunais em formato físico, em edição limitada.
De acordo com a ministra, o livro é uma homenagem à magistratura brasileira por meio de crônicas e relatos. "Nessa passagem pela Corregedoria, ao lado do trabalho árduo em prol da celeridade e da eficácia processual, deixo esse lado interessante da vida judicante, desconhecido da sociedade no qual revela o que é ser juiz", disse a corregedora.
Na opinião da magistrada, ser juiz não é só se debruçar sobre processos e mergulhar no mundo virtual dos autos, mas viver acontecimentos sociais como cidadão do povo, com redobrada prudência, parcimônia e crença de que a Justiça começa com um olhar de compreensão.
BAHIA - O livro também contém histórias de magistrados baianos, inclusive a narrativa "O Apelido, da juíza de Direito Virgínia Silveira Wanderley dos Santos Vieira, de Jaguaripe. Veja a seguir:
"Narro a história abaixo, que exemplifica uma situação muito comum no interior da Bahia: a pessoa ser conhecida tão somente pelo apelido, apelido este que, muitas vezes, não deriva de seu nome de registro, podendo ser outro prenome. Foi na Comarca de Jaguaripe, há cerca de oito anos, que um Oficial de Justiça, ao tentar cumprir um mandado de intimação na zona rural, passou três vezes por um senhor, a quem conhecia por João, e perguntou-lhe se conhecia Antônio de Oliveira e se sabia onde ele morava, para que fosse intimado, ao que João respondeu que não. Cansado de andar em sua moto, por toda a região, de casa em casa, e já na iminência de desistir de cumprir seu ofício, voltando com uma tão desagradável certidão negativa, passou mais uma vez por João e perguntou-lhe se realmente não tinha ideia de quem se tratava, pois o endereço era aquele. Foi quando João, parecendo despertar de um sono profundo, recordou-se de já ter ouvido aquele nome e resolveu olhar em seu próprio documento de identidade, quando confirmou ao Oficial de Justiça tratar-se dele mesmo, mas que nem ele lembrava, pois, há muito tempo, não era chamado pelo nome de 'Antônio Oliveira', mas apenas pelo apelido de João."
CORAÇÃO DE PAI - Uma das histórias mais emocionantes é aquela narrada pelo juiz Wilson Safatle Faiad, de Goiânia/GO, que conta o episódio de um pai que, ao ser esfaqueado pelo próprio filho e correndo risco de morte, preferiu procurar primeiro o juiz para tratar da situação do jovem, para só então dirigir-se a um hospital. O pai bateu à porta do juiz para pedir conselhos porque o filho estava matando aulas e andando na companhia de maus elementos, mas o magistrado teve de interrompê-lo para providenciar a ambulância, diante de ferimento tão grave. "Não há como não dar valor a tal pessoa, que pôs o filho à frente de sua própria dor pessoal: um verdadeiro pai!", escreve o juiz. Como essa, há muitas histórias de leitura agradável sobre adoção, reinserção social e disputas familiares entre outras.
Secom TRT5, com informações da Agência CNJ de Notíciasdo (Luiza Fariello) - 25/8/2016