Denúncias de abuso e trabalho infantil cresceram 41,2% na Copa do Mundo

foto: Divulgação MPT

 

A Copa do Mundo no Brasil não se resumiu a futebol e escancarou uma triste realidade no país. Nas quatro semanas do evento esportivo, as denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes cresceram 41,2% em comparação ao mesmo período de 2013. O levantamento foi feito pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH). Especialistas acreditam que as denúncias refletem um aumento já esperado nas estatísticas devido ao alto fluxo de turistas estrangeiros e brasileiros. Na Copa, segundo o Ministério do Turismo, pouco mais de 1 milhão de turistas de 203 nações vieram ao Brasil, e 3 milhões de brasileiros viajaram internamente.

 

Os dados da SDH também mostram um aumento de 24% nos casos de abusos sexuais nas quatro semanas analisadas, passando de 1.982, em 2013, para 2.465 este ano. O perfil dessas violações, entretanto, é diferente das explorações sexuais. Segundo Oliveira, os números da SDH indicam que os abusos são praticados, geralmente, contra crianças com menos de 11 anos, por parentes ou vizinhos. Já na exploração, as vítimas costumam ter acima de 11 anos. ''Temos uma visão, relatada em pesquisas, de que a Copa traz um cenário de vulnerabilidade pelas festividades, férias escolares e abuso de álcool'' Tatiana Akabane, coordenadora de projetos da ONG Childhood Brazil.

 

Considerando os dias entre 12 de junho e 13 de julho, os relatos recebidos por meio do Disque 100 da SDH saltaram de 524, em 2013, para 740 este ano. Pesquisadora na área da infância e da juventude, Graça Gadelha pondera que nem todas as denúncias são confirmadas, mas avalia que, no caso da Copa, o aumento das ligações reflete, sim, o crescimento dos casos. Ela passou por nove cidades sedes durante o Mundial para ministrar oficinas e fazer um estudo, ainda não divulgado, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e afirma que foi possível constatar um incremento nas violações.

 

Graça explica que a exploração sexual pressupõe trocas, seja por dinheiro, jantares ou roupas que atraem as crianças e os adolescentes. "São situações que remetem à alta condição de vulnerabilidade desse grupo, e as denúncias são, sem dúvida, um indicativo importante para supostas violações que ocorrem de forma semelhante em contextos de grandes eventos, que criam um cenário mais sensível", avalia a socióloga e consultora do Instituto Aliança. Segundo ela, as denúncias do Disque 100 sempre aumentam em períodos de carnaval e outras festas que promovem fluxo acentuado de pessoas.

 

Com a previsão do aumento de registros, antes do mundial foi criada uma agenda de convergência entre diversos setores da sociedade civil, sendo elaboradas ações preventivas, como campanhas de estímulo às denúncias. Esses esforços, porém, não foram suficientes para superar a falta de infraestrutura no atendimento imediato necessário às vítimas, tanto em relação à exploração sexual quanto a outras violações, como trabalho infantil. ''Às vezes, o conselho tutelar não tem carro ou computador, situações que agravam episódios de emergência e dificultam o funcionamento do sistema de garantia'', disse a pesquisadora, para quem é preciso estruturar o sistema como um todo.

 

Além do crescimento das violações, outro problema é que nem todas as denúncias são investigadas e têm desfecho. "Do Disque 100, as denúncias seguem para o Ministério Público e os conselhos tutelares, mas não há o acompanhamento dos relatos", diz. Graça explica que, em cada canal de ajuda às vítimas, como hospitais, conselhos tutelares, polícia e o Ministério Público, há fichas diferentes para relatar a exploração sexual. ''O ideal seria ter uma base unificada sobre as diferentes categorias de crianças e adolescentes, igualar as fichas de notificação nos demais centros de entrada'', sugere.

 

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Fonte: TST - 25/7/2014 | Via Correio Braziliense