Seminário Gêneros e Sexualidades aborda papel do Judiciário nas questões de diversidade e violências contra a mulher

O 1º Seminário de Gêneros e Sexualidades do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-5), realizado na tarde desta quinta-feira (17/11),  foi aberto pela corregedora, desembargadora Luíza Lomba, representando a Presidência. A desembargadora afirmou que os temas debatidos são atuais e parabenizou a criação do evento pelo Núcleo de Sustentabilidade, Acessibilidade e Inclusão. Ela ainda destacou que o crescimento do número de feminicídios e de agressões contra mulheres e também contra pessoas LGBTQIAP+   torna os temas importantes: “Temos o compromisso de discutir com maturidade,no âmbito do Poder Judiciário,  essas questões” e concluiu que precisamos de mais igualdade, liberdade e de menos violência.

O evento seguiu com a apresentação da juíza do Trabalho Adriana Manta, que presidiu a primeira mesa de discussão com a presença de Eveny da Rocha Teixeira, mestra em psicologia, e de Ailton da Silva Santos, especialista em gênero e sexualidade e doutor em Saúde Coletiva. Para a magistrada o nome do seminário apresentado no plural “gêneros e sexualidades” é proposital para desconstruirmos uma visão exclusivamente binária e ser mais inclusivo. Para ela, o evento é fundamental para entendermos a ética social do amor como uma forma de moldar o nosso comportamento social: “Não há justiça sem o povo e não há povo sem diversidade”, disse.

A apresentação de Eveny da Rocha teve como título “As violências sutis e seus efeitos na saúde mental e relacional da mulher”. Segundo a psicóloga, algumas violências são consideradas sutis por serem naturalizadas. A ideia da mulher estar em uma posição social abaixo da do homem era relatada desde peças publicitárias e também era tipificada na lei, como a legítima defesa da honra no caso de uma traição da esposa. As violências contra a mulher podem ser físicas, psicológicas, morais, sexuais e patrimoniais, e muitas violências são sutis na sociedade patriarcal – inclusive quando as atividades domésticas ficam sob a responsabilidade feminina, ou as responsabilidades de organização e de cuidado, ainda que no ambiente de trabalho, fica a cargo das funcionárias, o que gera uma sobrecarga, estresse e cansaço.

Por sua vez, o palestrante Ailton da Silva Santos falou sobre “Acolhimento de pessoas LGBTQIAP+ em vulnerabilidade social”. O especialista comentou sobre a importância do Tribunal em acolher as pessoas LGBTQIAP+ e das pessoas saírem da zona de conforto. Para ele precisamos não enxergar o diferente como uma patologia ou como algo demonizado. O pesquisador afirmou que respeitar que o outro pode ser de qualquer forma não altera o que cada um é. Ele explica que cuidar é prestar ajuda, ouvir e dar atenção a todos: “atender as pessoas em seu sofrimento com respeito e acolhida, sem perder de vista a sua fragilidade também social”. Segundo ele, a população LGBTQIAP+ é vulnerável na maior parte do tempo por causa do sexismo, da heterossexualidade compulsória, genitalismo, branquitute, binarismo e por várias outras questões. O palestrante finalizou explicando expressões que não deveriam ser ditas às pessoas trans ou não binárias. A juíza Adriana Manta concluiu que a Justiça do Trabalho presta atendimento à sociedade e que esse atendimento deve ser humanizado, respeitando a diversidade e com acolhimento.

No final do dia, a psicóloga Eveny da Rocha e a servidora do TRT-5 Adriana Valadares, que são mães de pessoas trans, fizeram um bate-papo sobre suas experiências de vida com a maternidade e sobre identidade de gênero. “Meu filho é uma criança trans e as crianças trans existem, e as mães existem e resistem”, afirmou a psicóloga. Para Adriana Valadares não é moda ser trans hoje em dia, só “existem menos condicionantes para impedir que as pessoas trans sejam pessoas trans”.

Segundo dia

O 1º Seminário de Gêneros e Sexualidades  segue no dia 22/11, das 13h às 16h30, no Tribunal Pleno, em Nazaré, com transmissão ao vivo no canal do TRT-5 no YouTube. Os temas que serão abordados serão: “Disputas e desafios em torno da agenda dos direitos de gênero e sexualidade no Brasil”, por Lucas Bulgarelli, “O protagonismo, o potencial e os desafios do Poder Judiciário na proteção dos direitos LGBT+ no Brasil”, por Diego dos Santos do Nascimento, e “A discriminação de gênero e à população LGBTQIAPN+ na fase pré-contratual - Reflexões sobre os obstáculos ao acesso ao emprego formal”, por Samantha Mendonça Lins Teixeira.

Secom TRT-5 (Fabricio Ferrarez com fotos de Fabricio Ferrarez e Renata Carvalho) - 18/11/2022